17 de maio

Conheci muitas pessoas, mas ainda não encontrei nenhuma companhia.

Se me perguntar como é a gente daqui, direi: como a de todo lugar. Coisa bem uniforme, a espécie humana. A maior parte gasta grande parte do seu tempo trabalhando para viver, e o pouco que lhe resta pesa-lhe de tal modo que procura todos os meios para desfazer-se desse tempo livre. Oh, destino dos homens!

Mas é gente muito boa! Se alguma vez me esqueço de mim, se alguma vez experimento com eles os raros prazeres que ainda são concedidos aos homens, como conversar animadamente, com franqueza e cordialidade, em torno de uma mesa bem servida; combinar um passeio, um baile de última hora ou qualquer outra diversão agradável, isso produz em mim um efeito excelente, contanto que não me ponha a cismar que em meu ser existem muitas outras faculdades que podem se enfraquecer por falta de uso, e que devo ocultar cuidadosamente! Ah! Isso constrange o coração... E, no entanto ser incompreendido é o destino de muitos de nós.

Eu deveria dizer: “Você é um insensato; procura o que não pode encontrar nesse mundo”.

 
OS SOFRIMENTOS DO JOVEM WERTHER
Johann Wolfgang von Goethe

0 comentários:

Postar um comentário

aos (im)possíveis leitores

"Quem és tu que me lês? És o meu segredo ou sou eu o teu?"
Clarice Lispector

sobre mim...

“Sempre tive a sensação de mal-estar no mundo, uma sensação de não caber no meu espaço, um desconforto diante de meus pares – eu me pergunto: tenho pares? Eu sabia que em mim há uma mulher que tento esconder ferozmente. Tenho medo que as pessoas identifiquem meus excessos, essa quantidade absurda de pernas e braços que camuflo sob a roupa que visto. O que diriam se soubessem das muitas que vivem em mim e tentam bravamente, numa luta corporal, projetar-se do meu corpo? Tomar-me-iam por uma aberração?”

Clarice Lispector