16 de junho

Tanta simplicidade aliada a tamanha inteligência, tanta bondade aliada a tamanha firmeza, e a paz de espírito orientando-lhe a vida e as atividades.

Eu descobria um sentido notável em tudo o que ela dizia; a cada palavra via brilhar novos encantos, novos lampejos de inteligência em seu rosto, que pouco a pouco parecia desabrochar em contentamento, porque ela sentia que eu a compreendia.

O autor que prefiro é aquele no qual se encontra o mundo em que vivo, em cujos livros as coisas se passam como em volta de mim, e cuja narração me prende e me interessa tanto quanto minha vida doméstica que, se não é nenhum paraíso, representa para mim uma fonte de inexprimível felicidade.

Ela se entrega aos movimentos com todo o coração e toda a alma: há em seu corpo tal harmonia, tal descontração, como se a dança fosse tudo para ela, como se não houvesse outro pensamento; e, neste instante, estou seguro de que tudo em seu mundo havia se dissipado.

Quando um acidente ou um susto nos surpreende no meio do prazer, é natural que as impressões produzidas sobre nós se manifestem mais fortes do que de costume,seja pelo inusitado que se faz sentir vivamente, seja, mais ainda, porque os nossos sentidos, uma vez abertos às emoções, recebem uma impressão mais intensa.

Enquanto eu puder ver esses olhos abertos – respondi, olhando-a intensamente -, não corro o risco de adormecer.



OS SOFRIMENTOS DO JOVEM WERTHER
Johann Wolfgang von Goethe

0 comentários:

Postar um comentário

aos (im)possíveis leitores

"Quem és tu que me lês? És o meu segredo ou sou eu o teu?"
Clarice Lispector

sobre mim...

“Sempre tive a sensação de mal-estar no mundo, uma sensação de não caber no meu espaço, um desconforto diante de meus pares – eu me pergunto: tenho pares? Eu sabia que em mim há uma mulher que tento esconder ferozmente. Tenho medo que as pessoas identifiquem meus excessos, essa quantidade absurda de pernas e braços que camuflo sob a roupa que visto. O que diriam se soubessem das muitas que vivem em mim e tentam bravamente, numa luta corporal, projetar-se do meu corpo? Tomar-me-iam por uma aberração?”

Clarice Lispector