Contemplo o lago mudo...



Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.

O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.

Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?


Fernando Pessoa






3 comentários:

Anônimo 20 setembro, 2006 02:12  

Quando a solidão nos pega desprevenidos e, chegando sem mais avisos, se instala, começando a abrir e remexer baús antigos, descobrindo fantasmas esquecidos e espanando a poeira das amarguras, transportamos-nos para fora de nosso corpo e, entre devaneios e dúvidas, refletimos sobre a vida.

Ah!...A vida!...quantas vezes nossas queixas beiram o insuportável, quantos problemas nos parecem insolúveis e as esperanças (ah! as esperanças!) como se assemelham a pálidas chamas de velas em final de pavio.

Nesses instantes, questionamos sobre tantos porquês de nossa existência, sobre tantos porquês....

Mas, quando a incômoda visitante vai-se embora, recompomo-nos das desilusões e mágoas e, um sorriso de paz volta a abrir nossos lábios cerrados!

Retomamos o cotidiano largado e, num suspiro de alívio, voltamos a viver, com a certeza de que vale a pena estar vivo!

Rogério Cardoso

Anônimo 20 setembro, 2006 02:14  

Houve um tempo em que a minha janela se abria sobre uma cidade que parecia feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde e em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma regra: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas e
outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

(Cecília Meireles)

Anônimo 24 novembro, 2006 01:56  

Muito bom o seu blog! Voltarei com mais vagar para apreciar as lindas poesias e textos (seus e outros). Obrigado pelo prazer de poder desfrutar de tudo. O amigo sempre ao seu dispor Pablito

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aos (im)possíveis leitores

"Quem és tu que me lês? És o meu segredo ou sou eu o teu?"
Clarice Lispector

sobre mim...

“Sempre tive a sensação de mal-estar no mundo, uma sensação de não caber no meu espaço, um desconforto diante de meus pares – eu me pergunto: tenho pares? Eu sabia que em mim há uma mulher que tento esconder ferozmente. Tenho medo que as pessoas identifiquem meus excessos, essa quantidade absurda de pernas e braços que camuflo sob a roupa que visto. O que diriam se soubessem das muitas que vivem em mim e tentam bravamente, numa luta corporal, projetar-se do meu corpo? Tomar-me-iam por uma aberração?”

Clarice Lispector