Canto da Primavera...

Pirenópolis 23 e 24/09/06

Ahhhh! Queridas amigas! Como é bom estar com vocês, brincar com vocês, cantar com vocês... (ihhhh! tô parecendo a Xuxa né! rssss), estreitar laços, fazer outros, viver! São momentos como estes que vivemos, que nos fazem voltar a acreditar que muito ainda é possível, que ainda existe verdadeira amizade!
Chegar nessa cidadezinha linda, ser tão bem acolhida, dividir o peso da “mala”...
Caminhar por ruas estreitas de pedra, voltando na história e vendo-a passar na arquitetura das casinhas e casarões que carregam em si as marcas de muitas vidas...
Deixar a imaginação embarcar de vez nessa viagem pelo tempo, tentando adivinhar quem colocou essas pedras aqui, onde hoje pisam meus pés?!, quem ergueu essas paredes tão grossas e resistentes?!, quem talhou essa madeira tão rica em detalhes e beleza?!, quem plantou essas árvores que me dão sombra?!, quem construiu essa ponte por onde “passo”?!, o que pensavam e sentiam quem contribuiu pra tudo isso?!, eram felizes?!...
São questionamentos inevitáveis que surgem quando nossos “olhos” visitam esses cenários! Cenários que nos permitem ficar em silêncio, como foi na igreja, que pra mim se tornou mais bela depois do incêndio, pois ele queimou somente a ostentação vinda do ouro, não a energia e paz que ainda existe lá...
Aqui, a vida não tem pressa, é tudo tranqüilo como o canto dos pássaros que anunciam a chegada da primavera, flores... flores que contrastam com a dureza das pedras do caminho quando caem sobre elas, se oferecendo como um tapete aos nossos pés, suavizando nossos passos, depois de ter dado beleza aos nossos olhos e à nossa alma! Ah! Como as flores nos ensinam! Se nós soubéssemos ouvi-las apreendendo sua sabedoria!
Tenho um grande amigo que diz que, “existem cantos que escondem recantos...”. Com certeza esse “Canto” da Primavera, esconde muitos recantos, encantos..., descobrimos alguns, outros permanecem, eles nunca se esgotam, para que a magia continue existindo, e digo com toda convicção, que o maior recanto cheio de encantos que descobri, foram esses que moram dentro de vocês, minhas amigas!
Se contássemos para as pessoas, sei que pouquíssimas acreditariam que, estando a cidade repleta de pessoas interessantes, nós, passamos um bom tempo brincando na piscina... (Vivi, obrigada por ter proposto essas brincadeiras!) de jogar e pegar moedinha lá no fundo... (ahh, por falar nisso, Paty e Vivi, da próxima deixarei vocês ganharem viu?! rss) e de fazer mímica para que as outras adivinhassem o que queríamos dizer.... (Débora, sua performance foi incrível! e Aninha, grande detetive, decifra todos os “códigos”!) rindo muito com tudo isso! Por que era isso que importava, era isso que queríamos, nos divertir e, já que resgatei a Xuxa...

“Em qualquer faz-de-conta
A gente apronta
É bom ser moleque
Enquanto puder...”


Espero que sejamos molecas assim, pra sempre! Que nunca deixemos que a seriedade, rigidez e hipocrisia da sociedade nos iniba e impeça de fazer o que é melhor, brincar, aprontar, rir... assumir nosso lado criança!
Lado criança,  lado humano tão presente em você Paty! Acho que não tem noção da grandeza do seu ato; toda sua disposição em ajudar, todo cuidado, carinho, atenção, solidariedade, enfrentando o medo; só mostram o quando sua alma é bela e especial, me senti mais feliz ainda por ser sua amiga ao presenciar essa atitude!
Afinal, somos amigas até debaixo d’água, literalmente! rss
Há muito tempo não tomava banho de chuva, foi maravilhoso ver o show do Almir Sater assim... ensopadas, descabeladas, mas acima de tudo, felizes por estarmos ali, juntas! Alguns constrangimentos e decepções com a espécie “humana” sempre acontecem nesses ambientes mas, tudo serve para o nosso aprendizado constante! Meus olhos acompanharam a chuva por alguns momentos, mas logo o arco-íris da amizade os fez parar... e ver que aquilo era apenas um cisco no olho, um detalhe insignificante diante da grandeza, beleza e valor das jóias que me cercavam... vocês! Obrigada a todas! Incrível o poder de um abraço Vivi!
Ah! Como sabia das coisas Fernando Pessoa ao dizer que:

“Vive um momento com saudade dele
Já ao vivê-lo . . .”

Foi exatamente isso que me aconteceu, vivi tudo isso já sabendo e sentindo a saudade que ficaria. São espantosas a alegria e beleza que nascem da espontaneidade, da simplicidade... O que aconteceu no teatro foi mágico, contagiamos todos, fizemos a diferença! Estar lá, naquele ambiente rústico, simples, pequeno... mas que ao mesmo tempo abarca uma riqueza cultural enorme, ouvir a orquestra dos violeiros, cantar junto com eles músicas que cresci ouvindo, músicas da minha raiz... profunda, forte, rica, poética; da qual tanto me orgulho. Foi muito emocionante! Ainda bem que a Lá (sempre prevenida, a festa não seria a mesma sem vc! Vc é tdb!) juntamente com a linda Gisele trouxeram a câmera para podermos registrar tudo... mas, o mais importante é saber que...

"O que vai ficar na fotografia
São os laços invisíveis que havia

As cores, figuras, motivos
O sol passando sobre os amigos
Histórias, bebidas, sorrisos
E afeto em frente ao mar.

... E quando o dia não passar de um retrato
Colorindo de saudade o meu quarto
Só aí vou ter certeza de fato
Que eu fui feliz"

(Leoni/Leo Jaime)

Cada dia é um retrato pintado com as cores dos momentos contidos nas latas das horas, cada pincelada, cada pingo de tinta nessa tela, já passou, mas também permanece... porque a substância principal, aquela que fica, é a saudade! Sem ela não haveria retrato, estaria em branco. É ela que faz a tela colorida e bela! Minha certeza de que fui feliz nasce quando fica a saudade no retrato, enquanto ele está sendo pintado...
Quanta saudade ficou no retrato desses dois dias! Saudades da saudade visível nos olhos daquela senhora, velhinha... retratos de uma vida, que da janela se deixava ver e via... via em nós o tempo que lhe escapava, possíveis retratos, talvez só concretizáveis nas telas dos sonhos!

Um grande beijo em todas vocês...

Concerto para corpo e alma...


Compreendi que a vida não é uma sonata que, para realizar sua beleza, tem que ser tocada até o fim. Dei-me conta, ao contrário, de que a vida é um álbum de minissonatas. Cada momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade.
Um único momento de beleza e de amor justifica a vida inteira.


Rubem Alves - Concerto para corpo e alma




Essa última frase me emociona, pois ela representa o "fio de Ariadne" no qual nos agarramos para continuar a caminhar nesse labirinto que é a vida! Não sabemos o que nos aguarda em cada curva, em cada passagem, mas se não gostarmos da paisagem, do cenário, existe sempre esse "fio", tecido com o algodão do pensamento, das lembranças, que nos ligam àqueles lugares... momentos de beleza e amor, que nos dão força suficiente para "matar o minotauro" e continuar a caminhar...



Contemplo o lago mudo...



Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.

O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.

Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?


Fernando Pessoa






Vida...



Não coma a vida com garfo e faca.
Lambuze-se!
Muita gente guarda a vida para o futuro.
Mesmo que a vida esteja na geladeira,
se você não a viver, ela se deteriorará.
É por isso que tantas pessoas se sentem emboloradas na meia-idade.
Elas guardam a vida,
não se entregam ao amor,
ao trabalho, não ousam,
não vão em frente.
Não deixe sua vida ficar muito séria,
saboreie tudo o que conseguir:
as derrotas e as vitórias,
a força do amanhecer e a poesia do anoitecer.
Com o tempo,
você vai percebendo que
para ser feliz
você precisa aprender a gostar de si,
a cuidar de si e,
principalmente,
a gostar de quem também gosta de você!


Vida - Mário Quintana




Poema responsável pelo início de uma bela amizade! Obrigada querido Rogério!


Lágrimas Ocultas...




Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida…

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago…
Tomo a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim…

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!


Lágrimas Ocultas - Florbela Espanca 

A casa do lago...




Sobre o filme A casa do lago

Certo estava Cazuza ao dizer que o tempo não pára! E no descompasso do tempo, onde cada um de nós existe, acontecem encontros, que se transformam em desencontros por esse tempo não ser o mesmo e não parar para podermos nos ajustar... para podermos perceber as possibilidades que tivemos, as pessoas que passaram por nós e que deixamos ir, sem ao menos notá-las verdadeiramente, sem vislumbrar ao menos o que poderia ter sido, se tivéssemos parado um pouco e esperado, não desistido. Ahhh o tempo! O tempo é um caminho a ser percorrido pelo existir, pelo ser, para que existamos, para sermos nele! Caso contrário, esse caminho não percorrido, fica cheio de folhas mortas das oportunidades que deixamos cair, sem agarrá-las, sem vivê-las, deixando de existir...
No filme é possível voltar no caminho do tempo e agarrar a folha que quase cai, aquela que mudará nossa vida, que a tornará mais bela, a que dará um sentido maior ao viver.
Um pouco complicado no início, por termos essa resistência em admitir que tudo pode ser diferente, inclusive a afirmação de que “o tempo não pára”... é preciso entrar no mundo dos sonhos, do possível, é preciso voltar a escrever cartas, voltar a fazer o que deixamos, por não “ter tempo”... é preciso parar um pouco e esperar até a folha cair, no seu tempo, para segurá-la, para vivê-la, para sê-la...
Um belo filme pra quem se permite sonhar, ultrapassando os limites do “tempo”, da “distância” que insiste em nos separar do que poderia contribuir muito para nossa felicidade! Nos mostra a importância de sermos transparentes, como a casa do lago, e assim, vermos mais também, até mesmo aquilo que está diante de nossos olhos...
Assistindo-o, é provável que cheguem à conclusão de que já possuem a “Casa do lago”, e de que falta somente restaurá-la e habitá-la no tempo que lhes restam...



...


Reflexos do meu ser!

Dançar... revelar...


A dança nasce da necessidade de se dizer o indizível, pois nada é mais revelador que o próprio gesto.
A cada dia me torno mais apaixonada por essa arte!
Acho que vou fazer como o Zorba do livro "Zorba, o grego", quando não souber o que dizer com palavras, vou simplesmente dançar!

aos (im)possíveis leitores

"Quem és tu que me lês? És o meu segredo ou sou eu o teu?"
Clarice Lispector

sobre mim...

“Sempre tive a sensação de mal-estar no mundo, uma sensação de não caber no meu espaço, um desconforto diante de meus pares – eu me pergunto: tenho pares? Eu sabia que em mim há uma mulher que tento esconder ferozmente. Tenho medo que as pessoas identifiquem meus excessos, essa quantidade absurda de pernas e braços que camuflo sob a roupa que visto. O que diriam se soubessem das muitas que vivem em mim e tentam bravamente, numa luta corporal, projetar-se do meu corpo? Tomar-me-iam por uma aberração?”

Clarice Lispector