Estou escrevendo para não gritar. Para não acordaros que dormem felizes lado a lado,os que repousam, aconchegados,os que se encontram e continuam juntose não precisam sonharporque não dizem adeus...
Estou escrevendo para não gritar. Para enfunar o coraçãoao largo.
E as palavras escorrem salgadas como um córrego de águas mortasnum silencioso pranto.Tão perto, e nem percebes minha insônia. Nem ouves a confidência.que põe nódoas no papel para não ter que acordar-tee se transmuda em palavras, que são estátuas de sal.
Estou escrevendo para não gritar. Para não ter tempode acompanhar a noite,para não perceber que estou só, irremediavelmente só,e que te trago comigosem outra alternativa que o pensamento- cela em que me debato a olhar a lua entre grades.
Estou escrevendo para não gritar. Para não perturbaros que se amamse juntam, e se estreitam, e sussurram na sombrae passeiam ao luar,
para que as palavras chovam num dilúvio, silenciosamente,e me alaguem, e me afoguem, e me deixem pela noite a dentrocomo um corpo sem vida e sem alma,a flutuar...
Escrevo dentro da noite - Poema de JG de Araujo Jorge
A vontade é mesmo a de gritar...
0 comentários:
Postar um comentário