Fecho os olhos e ainda te vejo...

Fecho os olhos e ainda te vejo,
Como esquecer aquele momento,
Em que teu corpo, visitou minhas entranhas,
Tua consciência, encontrou minha essência,
Teu suor, se misturou em minha saliva,
Meu coração, em tuas mãos.

Como esquecer,
Cada palavra dita,
Cada gesto, de carinho ardente.
Teu olhar fitando, o meu enxergar.
Teu beijo, seduzindo minha boca.
Teu querer,
Dominando, o meu ser.

Na vida,
Mergulhamos nas emoções, e sentimentos,
E com eles, partimos em grandes empreitadas.
E é isso, que nos faz gente,
Seres de alma, espírito e coração.

Com você, aprendi a estar e ser plena,
Com coragem suficiente, para mostrar a minha parte mais fraca,
Que dela dependo, que dela também preciso.

Como é preciso extravasar
Todo esse amor que muitas vezes, ficamos contendo,

Amor calado.

Nada é mais quente,
Que um abraço envolvido por carícias.
Nada é mais profundo, que um beijo apaixonado.
Nada é tão doce quanto o sorriso de teu rosto,
Nada é tão pleno quanto a forma que me senti amada.


Agora, só a presença insuportável em mim
Da tua absoluta e irremediável ausência.

Um beijo envolto em saudade carinhosa!

Na distância de nossos corpos...

Na distância de nossos corpos, na ausência de sua voz, cresceu em mim a saudade de sua presença física, com seu olhar cintilante, refletido em seu sorriso acariciante, lembrando-me do nosso aconchego, em momentos agasalhados no amor!



Medo do que virá...

Tento não sonhar, mas não consigo, eles me perseguem como uma luz a me iluminar. Quantos planos que talvez nunca se realizarão...
Mas em meus sonhos eles sempre existiram. Tenho medo do que virá se de repente, eu parar de sonhar; acho que morreria se não pudesse contar com esse futuro que vivo a idealizar.
Quantos caminhos possíveis, qual deles pisar? não sei! ... vivo a sonhar!
Tenho receio de um dia acordar e não mais saber o que é real ou sonho, possível ou impossível; e ver a vida passar como um rio cuja correnteza nos impede de voltar e saber quantas coisas seriam possíveis, se não vivesse a sonhar, se ousasse viver intensamente e amar!

Bucólica...

Invejo a vida humilde da criatura
dos lugares distantes, sossegados,
onde a terra é mais simples e mais pura
e os céus são transparentes e azulados...

Onde as árvores crescem, na beleza
da galharia exuberante e farta,
e o sol transforma a inquieta correnteza
num dorso rebrilhante de lagarta...

E onde os galhos são mãos cheias de flores
e as flores, taças multicores, vivas,
servindo mel aos tontos beija-flores
e às borboletas trêmulas e esquivas...

Desses lugares cheios de caminhos
como garotos, rabiscando o chão,
e onde os homens são como passarinhos
que são felizes sem saber que são...

E onde as casas, pequenas, de brinquedo,
com os olhos das janelas, como a gente
de dentro do aconchego do arvoredo
olham tudo ao redor, serenamente...

E onde o sol sai mais cedo, e sobre a serra
desdobra o seu lençol feito de luz
e acorda a seiva que intumesce a terra
nos campos verdes ou nos campos nus...

Gosto desses lugares sossegados
onde a vida é mais simples e mais pura,
os céus são transparentes e azulados
e é mais humana e humilde a criatura...


J. G. de Araújo Jorge - Meu Céu Interior

As esquinas...


As esquinas sempre foram pontos de encontros acidentais para quem pensa não estar perdido. Placas de sinalização com nomes de ruas, de pessoas que talvez nunca tenham passado por essas vias de fato.
Nos desencontros do próprio tropeçar , adiantar o passo quase que não adianta efetivamente nada.
As esquinas guardam linhas contrárias do tempo de cada um.
E passam a tarde toda suportando o peso de idas e vindas.
A noite quando o vazio habita a solidão de cada um, brumas testemunham o perder dos olhos em direção as linhas dessas vias que agora são atos.

                                                   (farolSOLidão)

Querido amigo JONEs (farolSOLidão) que a luz que de ti irradia ilumine as esquinas de nossas vidas tortuosas, para que possamos ver as placas que nos indicam o caminho das coisas belas, simples, essenciais...
Obrigada pela sempre deliciosa companhia! Te adoro!

Rifa-se um coração!




Rifa-se um coração quase novo. Um coração idealista. Um coração como poucos. Um coração à moda antiga. Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário. Rifa-se um coração que na realidade está um pouco usado, meio calejado, muito machucado e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões. Um pouco inconseqüente que nunca desiste de acreditar nas pessoas. Um leviano e precipitado coração que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu..."não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu espero...". Um idealista... Um verdadeiro sonhador... Rifa-se um coração que nunca aprende. Que não endurece e, mantém sempre viva a esperança de ser feliz, sendo simples e natural. Um coração insensato que comanda o racional sendo louco o suficiente para se apaixonar. Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras. Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros. Esse coração que erra, briga, se expõe. Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões. Sai do sério e, às vezes revê suas posições arrependidas de palavras e gestos. Este coração tantas vezes incompreendido. Tantas vezes provocado. Tantas vezes impulsivo. Rifa-se este desequilibrado emocional que, abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto. Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes. Um órgão abestado indicado apenas para quem quer viver intensamente e, contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando o tempo, defendendo-se das emoções. Rifa-se um coração tão inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário. Um coração que quando parar de bater ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas:" O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento. Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer". Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo. Um órgão mais fiel ao seu usuário. Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga. Um coração que não seja tão inconseqüente. Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado. Um verdadeiro caçador de aventuras que, ainda não foi adotado, provavelmente, por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais, por não querer perder o estilo. Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree. Um simples coração humano. Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado. Um modelo cheio de defeitos que, mesmo estando fora do mercado, faz questão de não se modernizar, mas vez por outra, constrange o corpo que o domina. Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos e, a ter a petulância de se aventurar como poeta.

Clarice Lispector
 

Viver não dói...



Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar. Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!! A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.




Carlos Drumond de Andrade

Meu encontro com Rubem Alves...


Quando recebi o folder do IV Encontro de Educadores da Região Centro-Oeste, fiquei irradiante ao saber que Rubem Alves estaria lá, fiz minha inscrição no ato e comecei a contar os dias! Um tempo antes havia escrito uma carta a ele e enviado por e-mail, fiquei triste por não receber resposta, resolvi então imprimi-la e entrega-la pessoalmente nessa oportunidade!
O dia “D” se aproximava e minha ansiedade aumentava...coisa boba, dirão alguns, mas não me importo, sou assim, quando sinto que um sonho está preste a se realizar, não consigo me conter e...derramo! Tenho vários sonhos, este era um deles, poder olhar no olho, cumprimentar, tocar...
Foi na minha graduação em filosofia, por intermédio do professor Padre Kinkas, que realmente entrei em contato com a obra de Rubem Alves, ele nos indicou o livro “Conversas com quem gosta de ensinar”, comprei, li e aí foi amor à primeira vista, ou melhor, à primeira leitura, ele me encantou com suas palavras mágicas! Queria terminar essa etapa de meus estudos e ser um jequitibá e não um eucalipto!
A partir desse primeiro contato, meus encontros com ele se tornaram freqüentes, “Entre a ciência e a sapiência”, “Um mundo num grão de areia”, “Se eu pudesse viver minha vida novamente”, “Um céu numa flor silvestre”, “A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir”... em cada livro o feiticeiro da palavra aumentava seu poder sobre mim, não podia comprar todos os livros, então passei a freqüentar livrarias para lê-los, mas assim o deleite não era completo!
Descobri seu endereço e passei a visitá-lo diariamente e virtualmente, infelizmente! Conheci cada parte de sua casa, desde o jardim ao quarto de badulaques! Como é incrível essa casa, quantas estórias ela tem! Quantos tesouros guardados, mas só quem se dispõe a procurar, realmente os encontra! Essa casa, assim como seus livros, nos abrem portas e janelas para o infinito! Além dos tesouros de Rubem, também encontramos lá, portais mágicos que nos levam a outros tesouros, preciosidades que talvez nunca iria apreciar se não fosse essa passagem secreta! Esse portal me fez ver Nietzsche com outros olhos, me levou a livros e filmes fantásticos, me introduziu no universo da poesia...!
Certo dia, navegando no mar virtual, encontrei uma comunidade dele no orkut, lá tive o prazer de falar com Silvana Poll, uma pessoa maravilhosa que me fez o favor de enviar um baú cheio de jóias, ainda não contemplei todas, é uma atividade prazerosa, portanto é necessário algum tempo. Sempre que posso, abro o baú e retiro uma pérola!
Finalmente o dia do “encontro” chegou! Entrei no auditório e logo encontrei com minha amiga Gilda onde havíamos combinado, fomos sentar lá na frente! O evento começou com as boas vindas dos organizadores e em seguida uma mensagem com imagens no telão propondo uma reflexão sobre o Katrina e suas conseqüências, ressaltando a fragilidade humana e a brevidade da vida! Depois veio outra mensagem com a linda música “epitáfio” do Titãs, nos lembrando do que é realmente essencial na vida!
O mestre de cerimônia falou um pouco de Rubem Alves e o chamou dizendo que ele iria proferir a magna palestra, meu coração gelou... “é agora!”. De repente surge dentre nós aquela pessoa fantástica, simples, com semblante sereno, típico de quem já adquiriu muita sabedoria, com uma bengala e se dirige ao palco. Cumprimentou o público e começou dizendo que não “profere palestras magnas”, se denominando um simples “contador de estórias”!
E foi realmente contando estórias que começou a falar de coisas importantes. Eu quase não acreditava que estava ali com ele e confidenciei isso várias vezes à minha amiga, parecia que precisava de uma testemunha! Foi uma noite encantadora e inesquecível! Quando percebeu que estávamos fazendo anotações, chamou Adélia Prado pra nos dizer, “aquilo que a memória ama fica eterno”, foi o bastante, o que estava acontecendo ficaria eterno em mim na memória e no coração, portanto não havia necessidade de anotar!
Falou do professor como um “semeador do futuro” e da importância de se ensinar a sonhar, propôs que lêssemos Mário Quintana aos alunos, por que “tudo começa com um sonho”, assim estaríamos estimulando a leitura, pois a literatura é o lugar da onipotência do desejo. Disse que “a gente só quer aprender aquilo que tem haver com sonhos”, “somos uma garrafa onde mora um gênio” e as coisas que ensinamos só tem sentido se contribuírem para um mundo com mais beleza! Contou várias estórias e histórias, todas nos faziam refletir sobre nossa prática diária e também sobre nossa postura diante da vida. É, com certeza, encantador ouvi-lo! Só fez com que minha admiração aumentasse em proporções gigantescas!
Infelizmente tudo que é bom também tem um fim, ou melhor, “dura o tempo suficiente pra se tornar inesquecível” (Fernando Pessoa). Finalizou sua fala enfatizando ainda mais a importância de sonhar...e se despediu dizendo que daria autógrafos a quem se interessasse, quis ser uma das ultimas. Gilda e eu aguardamos pacientemente nosso momento. Ele foi atencioso e carinhoso com todos, pousava para as fotos com muita tranqüilidade e paciência! Como não estava com minha câmera, pedi a um fotógrafo que registrasse esse momento. Quase o matei no outro dia, pois as fotos queimaram...mas tudo bem, o que ficou registrado em minha alma nunca “queimará”!
E o sonho se realizou... cumprimentei-o dando dois beijos e dizendo que estar ao seu lado era um sonho que estava se realizando, ele sorriu com ternura! Fiquei sem graça de pedir para autografar todos os livros e perguntei: qual? Ele pegou todos e autografou enquanto conversávamos, perguntei se não se importava de receber minha carta ali, disse que não e guardou-a prometendo ler e responder! Depois o abracei carinhosamente enquanto o fotógrafo fazia seu trabalho! Saímos de lá satisfeitas.
No saguão do auditório, onde estavam expostos seus livros, nos encontramos novamente, com seu carisma de sempre brincou dizendo estar indignado pois o melhor livro que escreveu não havia sido vendido, se referiu a um livro sobre futebol! Foi maravilhoso esse encontro!!! Voltei pra casa com a certeza de que realmente,

“Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”


Fernando Pessoa



Saudade...


Saudade é solidão acompanhada, é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou, é recusar um presente que nos machuca, é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam, é a dor dos que ficaram para trás, é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade: aquela que nunca amou. E esse é o maior dos sofrimentos: não ter por quem sentir saudades, passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.


Pablo Neruda

Até sempre....

De repente nada mais consigo escrever, meu amor.
Há um profundo vazio que se recusa a ser preenchido
Por sonhos que nunca se tornarão realidade, ai de mim!
É bom entrelaçarmo-nos em doces devaneios suspirados,
Em palavras lindas e em sentimentos de profunda devoção.
Mas destrói-nos a alma realizarmos por instantes,
Que o sofrimento motivado pela privação permanente
Não passará nunca, por muito que façamos de conta.
Não vejo perspectivas de poder ser tua e, por consequência, de tu seres meu.
Deixemos repousar as coisas do coração por aqui, antes que nos aniquilem.
Porque as da amizade essas, para mim, serão eternas!
Intimo-te a que não me faltes em momento de aflição, se puderes!
Que eu tenha a coragem de fazer o que tem de ser feito e tu também o sabes.
És aquilo que de mais belo me aconteceu e resides já no meu peito num canto único.
Agora, retém as lágrimas.
Deixo-te o meu sorriso como símbolo do que foi o nosso tempo!
Que te acompanhe sempre um beijo que principia aqui...

Até sempre!

Maria Branco

São longas as horas...

São longas as horas que passo sem ti. Cada folha que cai, sinto-a como uma lágrima de saudade! A minha alma, como uma árvore que se prepara para o inverno, encontra-se quase despida do manto de ternura que me deixaste da última vez que estivemos juntos. Já preciso da primavera que é a tua presença. Do sol que é o teu sorriso, das estrelas que são os teus olhos, dos pássaros que são tuas palavras e das flores que são teus beijos! Só as tuas benditas mãos me podem massagear a alma de tão tolhida que está pela aridez da tua ausência. Vem para mim com a inexorabilidade do tempo, para que não falhes! Aguardo-te com a impaciência do renascimento...


Maria Branco

aos (im)possíveis leitores

"Quem és tu que me lês? És o meu segredo ou sou eu o teu?"
Clarice Lispector

sobre mim...

“Sempre tive a sensação de mal-estar no mundo, uma sensação de não caber no meu espaço, um desconforto diante de meus pares – eu me pergunto: tenho pares? Eu sabia que em mim há uma mulher que tento esconder ferozmente. Tenho medo que as pessoas identifiquem meus excessos, essa quantidade absurda de pernas e braços que camuflo sob a roupa que visto. O que diriam se soubessem das muitas que vivem em mim e tentam bravamente, numa luta corporal, projetar-se do meu corpo? Tomar-me-iam por uma aberração?”

Clarice Lispector