10 de maio


Uma serenidade maravilhosa apoderou-se de todo o meu ser, semelhante às doces manhãs de primavera que venho saboreando intensamente. Estou sozinho, e felicito-me por viver neste lugar, feito para almas como a minha.
Meu amigo, se o dia começa a raiar à minha volta, se o mundo que me cerca e o céu inteiro descansam no meu peito como a imagem de uma bem-amada, então suspiro e digo para mim mesmo: “Ah! Caso pudesse se exprimir, caso pudesse passar para o papel o que em você sente viver com tanto ardor e tamanha abundância, de forma que ali estivesse o espelho de sua alma, como sua alma é o espelho de Deus infinito!...” Ah, meu amigo... Mas me sufoco, esmoreço diante da magnitude dessas visões.





OS SOFRIMENTOS DO JOVEM WERTHER
Johann Wolfgang von Goethe

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aos (im)possíveis leitores

"Quem és tu que me lês? És o meu segredo ou sou eu o teu?"
Clarice Lispector

sobre mim...

“Sempre tive a sensação de mal-estar no mundo, uma sensação de não caber no meu espaço, um desconforto diante de meus pares – eu me pergunto: tenho pares? Eu sabia que em mim há uma mulher que tento esconder ferozmente. Tenho medo que as pessoas identifiquem meus excessos, essa quantidade absurda de pernas e braços que camuflo sob a roupa que visto. O que diriam se soubessem das muitas que vivem em mim e tentam bravamente, numa luta corporal, projetar-se do meu corpo? Tomar-me-iam por uma aberração?”

Clarice Lispector