Olha para estas mãosde mulher roceira,esforçadas mãos cavouqueiras.
Pesadas, de falanges curtas,sem trato e sem carinho.Ossudas e grosseiras.
Mãos que jamais calçaram luvas.Nunca para elas o brilho dos anéis.Minha pequenina aliança.Um dia o chamado heróico emocionante:– Dei Ouro para o Bem de São Paulo.
Mãos que varreram e cozinharam.Lavaram e estenderamroupas nos varais.Pouparam e remendaram.Mãos domésticas e remendonas.
Íntimas da economia,do arroz e do feijãoda sua casa.Do tacho de cobre.Da panela de barro.Da acha de lenha.Da cinza da fornalha.Que encestavam o velho barreleiroe faziam sabão.
Minhas mãos doceiras...Jamais ociosas.Fecundas, imensas e ocupadas.Mãos laboriosas.Abertas sempre para dar, ajudar,unir e abençoar.
Mãos de semeador afeitasà sementeira do trabalho.Minhas mãos raízesprocurando a terra.
Semeando sempre.Jamais para elasos júbilos da colheita.
Mãos tenazes e obtusas,feridas na remoção de pedras e tropeços,quebrando as arestas da vida.Mãos alavancasna escava de construções inconclusas.
Mãos pequenas e curtas de mulherque nunca encontrou nada na vida.Caminheira de uma longa estrada.Sempre a caminhar.Sozinha a procurar,o ângulo perdido, a pedra rejeitada.
Estas mãos - Cora Coralina
estas mãos
Postado por
Cláudia Paula
08/02/2008
Marcadores: Cora Coralina
0 comentários:
Postar um comentário