bala perdida




Os alvos são os esquecidos da nação
Enquanto se fala em bala perdida
Vidas são atingidas por elas ou por omissão?!

A história fica com furos que na carne se faz
Balas que amargam vidas dos que ficaram para trás

No comércio do crime
A vida não tem prazo de validade!

A violência não mais assusta
Só susta!

carrossel



Ainda tenho sonhos, ainda sou criança, resta ainda esperança, só envelheci...
Dentro de mim ainda alimento esses vividos momentos de brincar e sorrir
E no triciclo da vida, pedalo na contramão, fazendo dos instantes vividos
Meu carrossel de emoção!
Onde figura um cavalo marinho que vem das profundezas pra me dar a mão
E esse ser de longe, de onde nunca estive, me faz ver melhor onde passo, enfeitando os caminhos, enchendo-os de laços, esquecendo cansaços, dores, ilusões...
Girando de mãos dadas, seguimos nossa jornada nos alimentando de palavras encantadas, iguais aos dos contos de fadas que transformam nosso ser...
Em cada passo, como pontinhos a ligar, vamos desenhando a vida, mesmo sabendo da existência de bruxas más.
E assim percebo que não estou na contramão, mas sim, que a vida é uma roda, que gira sempre, sem direção...

em meus momentos escuros



Em meus momentos escuros
Em que em mim não há ninguém,
E tudo é névoas e muros
Quanto a vida dá ou tem,
Se, um instante, erguendo a fronte
De onde em mim sou aterrado,
Vejo o longínquo horizonte
Cheio de sol posto ou nado
Revivo, existo, conheço,
E, ainda que seja ilusão
O exterior em que me esqueço,
Nada mais quero nem peço.
Entrego-lhe o coração.


Fernando Pessoa (1888-1935)

aos (im)possíveis leitores

"Quem és tu que me lês? És o meu segredo ou sou eu o teu?"
Clarice Lispector

sobre mim...

“Sempre tive a sensação de mal-estar no mundo, uma sensação de não caber no meu espaço, um desconforto diante de meus pares – eu me pergunto: tenho pares? Eu sabia que em mim há uma mulher que tento esconder ferozmente. Tenho medo que as pessoas identifiquem meus excessos, essa quantidade absurda de pernas e braços que camuflo sob a roupa que visto. O que diriam se soubessem das muitas que vivem em mim e tentam bravamente, numa luta corporal, projetar-se do meu corpo? Tomar-me-iam por uma aberração?”

Clarice Lispector