lucidez perigosa

Tela de Edward Hopper

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.


Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.


Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.


Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.


A lucidez perigosa - Clarice Lispector






Hoje, exatamente assim...




6 comentários:

Anônimo 13 dezembro, 2006 20:00  

Cláudia, pode ter certeza de que vc brilha e ilumina a vida de muitos de nós!

MEU DESEJO

Meu desejo? Era ser a luva branca
Que essa tua gentil mãozinha aperta;
A camélia que murcha no teu seio,
O anjo que por te ver do céu deserta...
Meu desejo? Era ser o sapatinho
Que teu mimoso pé no baile encerra...
A esperança que sonhas no futuro,
As saudades que tens aqui na terra...
Meu desejo? Era ser o cortinado
Que não conta os mistérios de teu leito;
Era de teu colar de negra seda
Ser a cruz com que dormes sobre o peito.
Meu desejo? Era ser o teu espelho
Que mais bela te vê quando deslaças
Do baile as roupas de escomilha e flores
E mira-te amoroso as nuas graças!
Meu desejo? Era ser desse teu leito
De cambraia o lençol, o travesseiro
Com que velas o seio, onde repousas,
Solto o cabelo, o rosto feiticeiro...
Meu desejo? Era ser a voz da terra
Que da estrela do céu ouvisse amor!
Ser o amante que sonhas, que desejas
Nas cismas encantadas de langor!
(ÁLVARES DE AZEVEDO)
EM "A LIRA DOS VINTE ANOS"

Anônimo 13 dezembro, 2006 20:01  

Cladinha, eu tenho por hábito dizer das pessoas o que penso delas.

Pode acreditar, tudo que disse a seu respeito, vc conquistou por vc mesma!

Um beijo terno e com todo afeto pra vc!

Rogério

Anônimo 13 dezembro, 2006 20:05  

Minha amiga querida,


CANTIGA PARA NÃO MORRER

Quando você se for embora,
moça branca como a neve,
me leve.
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.
Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

FERREIRA GULLAR
Do Livro, "Dentro da Noite Veloz"

Anônimo 13 dezembro, 2006 20:23  

PERGUNTA-ME

Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer

(MIA COUTO)


Vc significa muito para mim, Cláudia!

Anônimo 15 dezembro, 2006 22:10  

Carente... vazio...

(Por: Marcos Woyames de Albuquerque)



Triste, acordei triste!
Não que tenha dormido mal
Foi um sono só, solto, direto.
Um sono de noite toda, reto.

Foi uma fuga só,
até o amanhecer.
Tinha tudo para estar bem.
Tinha?
Estou triste!

Uma vontade de colo,
De abraço, de afago,
De aconchego!
Não precisa falar.
Não precisa me ouvir.
É só do meu lado estar,
Entrar lá dentro e ficar.
Meu espaço vazio ocupar.

Estou com um nó na garganta.
Sensação de solidão.
Um vazio que é de imensidão.

Um sozinho lá dentro.
Um coração que é sangrento.
Mais que isso... nó na garganta,
Vontade de lamento.

Por mais que eu queira,
Que eu lute, que eu resista,
É uma luta vazia.
Não tem propósito.

O ar tá cheio de gente.
O mundo tá cheio de vida.
Que me importa?
Pra mim não tem ninguém
Não há o que me contente,
Tudo em mim é tédio.
Tudo me é ausente.

Quero colo,
Quero carinho,
Quero afeto,
Me sinto sozinho.
Tão sozinho.
Só, apenas sozinho!

Me encha, me preencha...
Está vazio...
Estou só... muito só.

Meu braço não me abraça.
Teu braço não me abraça.
Meu peito não respira,
Meu peito só suspira!

Meu coração bate...
É só sobrevivência.
Seu bater é mudo...
Está vazio...
não tem ressonância.

Um nó na garganta.
Um choro que não chora.
Aperta, maltrata, dói.
Está vazio,
Está um nada, um vácuo.

Chora meu choro!
Por que você não chora?
Chora... sai e põe pra fora.
Rasga o peito.
Expõe a dor ou o defeito.
Preenche este maldito vazio
que ocupa o meu peito.

Solitário... solitário...
Não me importam os presentes,
Me são todos ausentes.

Quero um colo pra chorar.
Eu choro por querer chorar,
Eu choro por não chorar.
Não há lágrimas, só vazio!

Escuta, ouve meu grito...
Estou só, só em meio a solidão...
Só... Bem no meio da multidão...

Só...

Vazio...

Anônimo 16 dezembro, 2006 18:21  

Advinha quem voltou!...nem te conto....

Passei mais uma vez pra lhe dizer que pessoas com conteúdo, como vc, são um alento pra nossas vidas...




Nenhum rosto é comum,
nenhum olhar é apagado,
nenhum sorriso é sem cor,
nenhum silêncio é vazio,
nenhuma voz é mera puluição sonora,
nenhum aperto de mão é simples gesto formal,


Para quem sabe:
- em cada rosto ler a história de uma vida,
- em cada olhar decifrar os sonhos de um visionário,
- em cada sorriso descobrir a beleza das flores que desabrocham,
- em cada silêncio perceber a força maior do que o ruído dos muitos gritos,
- em cada voz entender o que atrás das palavras se esconde de indizível,
- em cada aperto de mão sentir o calor de um convite à comunhão.

O homem para o homem
é mensagem que se diz
em cada ponta do seu ser!
(ROGÉRIO CARDOSO)

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aos (im)possíveis leitores

"Quem és tu que me lês? És o meu segredo ou sou eu o teu?"
Clarice Lispector

sobre mim...

“Sempre tive a sensação de mal-estar no mundo, uma sensação de não caber no meu espaço, um desconforto diante de meus pares – eu me pergunto: tenho pares? Eu sabia que em mim há uma mulher que tento esconder ferozmente. Tenho medo que as pessoas identifiquem meus excessos, essa quantidade absurda de pernas e braços que camuflo sob a roupa que visto. O que diriam se soubessem das muitas que vivem em mim e tentam bravamente, numa luta corporal, projetar-se do meu corpo? Tomar-me-iam por uma aberração?”

Clarice Lispector