Para isso fomos feitos:Para lembrar e ser lembradosPara chorar e fazer chorarPara enterrar os nossos mortos —Por isso temos braços longos para os adeusesMãos para colher o que foi dadoDedos para cavar a terra.Assim será nossa vida:Uma tarde sempre a esquecerUma estrela a se apagar na trevaUm caminho entre dois túmulos —Por isso precisamos velarFalar baixo, pisar leve, verA noite dormir em silêncio.Não há muito o que dizer:Uma canção sobre um berçoUm verso, talvez de amorUma prece por quem se vai —Mas que essa hora não esqueçaE por ela os nossos coraçõesSe deixem, graves e simples.Pois para isso fomos feitos:Para a esperança no milagrePara a participação da poesiaPara ver a face da morte —De repente nunca mais esperaremos...Hoje a noite é jovem; da morte, apenasNascemos, imensamente.
Poema de Natal - Vinicius de Moraes
poema de natal
Desejo-lhes um natal inesquecível e um ano novo repleto de realizações!
Que vocês sejam imensamente felizes pois... "para isso fomos feitos"...
Milhões de beijos!
lucidez perigosa
Estou sentindo uma clareza tão grandeque me anula como pessoa atual e comum:é uma lucidez vazia, como explicar?assim como um cálculo matemático perfeitodo qual, no entanto, não se precise.
Estou por assim dizervendo claramente o vazio.E nem entendo aquilo que entendo:pois estou infinitamente maior que eu mesma,e não me alcanço.Além do que:que faço dessa lucidez?Sei também que esta minha lucidezpode-se tornar o inferno humano- já me aconteceu antes.
Pois sei que- em termos de nossa diáriae permanente acomodaçãoresignada à irrealidade -essa clareza de realidadeé um risco.
Apagai, pois, minha flama, Deus,porque ela não me servepara viver os dias.Ajudai-me a de novo consistirdos modos possíveis.Eu consisto,eu consisto,amém.
A lucidez perigosa - Clarice Lispector
Hoje, exatamente assim...
imensamente grata
A amizade sobreleva o contato físico ultrapassando fronteiras, distâncias, chega ao seu destino... Incrível esse poder que temos de nos fazer presentes aqui, as palavras são as ferramentas que nos possibilitam isso, levam e trazem amor, compreensão, apóio, carinho, afeto! Ah! Como é bom nos sentir lembrados, queridos, amados... Saber que nossa “ausência” é sentida quando prolongada e que nossa “presença” é motivo de alegria!
Palavras, são elas eternas viajantes do espaço e tempo que lhe são indiferentes, mas que se tornam fundamentais quando penetram “nosso” espaço e tempo! As palavras ficam, as pessoas se vão. Mas, eis aí a mágica união do eterno com o efêmero! São mãos humanas que alinham letras e tecem colchas (textos) com as quais cobrimos momentos, sentimentos, nos aquecendo com os fios de carinho de que são feitas!
Mãos humanas de todas as formas, de tantos lugares, mãos que acolhem, seguram, protegem, acarinham, mãos que se dão, palavras que se formam, destinos que se cruzam, amizade que nasce, alegria que brota...
No dia em que completava e contemplava mais uma primavera, palavras assim, carregadas de carinho, me beijaram a face fazendo-me feliz e grata pela existência das pessoas que as lançaram no espaço para viajarem até mim. Algumas, creio, se perderam, ou nem chegaram a embarcar mas, entendo, isso também me acontece, são tantas as correrias dessa vida...
Carrego a certeza de que um dia de neblina não oculta nem apaga o brilho do sol, que sempre prevaleceu!
Poemas, recados, mensagens, ligações, cartões, cds, palavras, gestos, silêncios, carinho... obrigada de coração!
Agradeço por participarem da minha vida fazendo-a melhor e mais feliz!
E, como diz nosso querido Milton Nascimento
“Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito”
saibam que é aqui, “dentro do coração”, que vocês estão sempre presentes em mim!
Beijos e abraços!
(ao dia 02/12)
poema olhando um muro
Do escuro do meu quarto - imóvel como um felino, espioa lagartixa imóvel sobre o muro: mal sabe ela da sua presença ornamental, daquele verde intenso na lividez mortal da pedra... ah, nem sei eu também o que procuro, há tanto... nesta minha eterna espreita! Pertenço acaso à raça dos mutantes? Ou sou, talvez - em meio às espantosas aparências de algum mundo estranho - um espião que houvesse esquecido seu código, a sua sigla, tudo...- menos a gravidade da sua missão!
Poema Olhando um Muro - Mário Quintana