Ahhh! Querido Affonso!!!Desmontar a casa
e o amor. Despregar
os sentimentos das paredes e lençóis.
Recolher as cortinas
após a tempestade
das conversas.
O amor não resistiu
às balas, pragas, flores
e corpos de intermeio.
Empilhar livros, quadros,
discos e remorsos.
Esperar o infernal
juízo final do desamor.
Vizinhos se assustam de manhã
ante os destroços junto à porta:
-pareciam se amar tanto!
Houve um tempo:
uma casa de campo,
fotos em Veneza,
um tempo em que sorridente
o amor aglutinava festas e jantares.
Amou-se um certo modo de despir-se
de pentear-se.
Amou-se um sorriso e um certo
modo de botar a mesa. Amou-se
um certo modo de amar.
No entanto, o amor bate em retirada
com suas roupas amassadas, tropas de insultos
malas desesperadas, soluços embargados.
Faltou amor no amor?
Gastou-se o amor no amor?
Fartou-se o amor?
No quarto dos filhos
outra derrota à vista:
bonecos e brinquedos pendem
numa colagem de afetos natimortos.
O amor ruiu e tem pressa de ir embora
envergonhado.
Erguerá outra casa, o amor?
Escolherá objetos, morará na praia?
Viajará na neve e na neblina?
Tonto, perplexo, sem rumo
um corpo sai porta afora
com pedaços de passado na cabeça
e um impreciso futuro.
No peito o coração pesa
mais que uma mala de chumbo.
Affonso Romano de Sant'Anna
Separação...
Canções antigas...
Ouvindo antigas canções sou invadida por lembranças, sensações, saudades... é incrível o poder da música! Ela resgata pedaços de vida perdidos no tempo e os reconstrói... sempre mais bonito do que realmente foram! Uma imensa vontade de voltar no tempo atravessa o peito rasgando o coração... Ao mesmo tempo um pesar por não ter feito melhor, por não ter feito mais! O que faço eu dos meus dias? Estou cansada! Meu coração não quer mais viver do passado através das músicas! Anseia por um presente! Quer alguém pra abraçar quando chegar em casa! Mas as músicas não param! Elas tocam dentro de mim e me tocam. Assim, não consigo me livrar das lembranças! Assim não consigo pôr fim!
Os Ombros Suportam o Mundo...
Chega um tempo em que não se diz mais: meu
Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos
edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Carlos Drummond de Andrade
Um palhaço...
Um palhaço que perdeu a graça,
Mas não o encanto
Este continua presente em cada canto.
Esse olhar profundo...
Talvez estão a fitar
O rumo de seus sonhos
Perdidos no caminhar.
Essa lágrima que cai
Em quem julgamos ser feliz
São lagrimas de sonhos distantes
Presentes apenas nos instantes
Em que ousou ser e sentir
Mas essa lágrima que escorre também é a esperança
Fugindo do rosto, pintado e colorido
De quem já foi feliz...
E alegrou crianças!
Em sua boca o sorriso pintado
Nos confunde e faz duvidar
Se ela está mesmo sorrindo
Brigando com seu olhar
Mas nem mesmo a boca pintada
Consegue disfarçar
A dor carregada na alma
Que se recusa acabar!
E assim o seu encanto
Está em todos os cantos
Entre o riso e o pranto
Do palhaço colorido
Que ficou preto e branco!
Mas não o encanto
Este continua presente em cada canto.
Esse olhar profundo...
Talvez estão a fitar
O rumo de seus sonhos
Perdidos no caminhar.
Essa lágrima que cai
Em quem julgamos ser feliz
São lagrimas de sonhos distantes
Presentes apenas nos instantes
Em que ousou ser e sentir
Mas essa lágrima que escorre também é a esperança
Fugindo do rosto, pintado e colorido
De quem já foi feliz...
E alegrou crianças!
Em sua boca o sorriso pintado
Nos confunde e faz duvidar
Se ela está mesmo sorrindo
Brigando com seu olhar
Mas nem mesmo a boca pintada
Consegue disfarçar
A dor carregada na alma
Que se recusa acabar!
E assim o seu encanto
Está em todos os cantos
Entre o riso e o pranto
Do palhaço colorido
Que ficou preto e branco!
O teu riso...
Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
Pablo Neruda
Simplesmente amo essa poesia!
Parece que todos estão felizes...
Parece que todos estão felizes! Estão aqui comendo seus hambúrgueres com batata frita e coca-cola, comentando sobre os programas de tv, desfilando pelos corredores para mostrar sua mais recente aquisição... um tênis ou uma roupa de grife famosa. As crianças recebem uma pintura no rosto, muito bonita por sinal, são borboletas e outros bichinhos bonitinhos que cobrem esses lindos rostos infantis. Depois elas ganham um balão comprido com o qual podem dar à forma que quiserem, a maioria o transforma em coração!
Os pais seguram seus filhos pela blusa, alguns ainda pegam na mão, para que eles não fujam, como os bichinhos que estão estampados em suas “caras pintadas”. E assim vão passando este domingo... “felizes”!
Do lugar onde me encontrava, ou me perdia, não sei! Tomando meu ovomaltine, vejo uma cena que chamou minha atenção. Uma jovem funcionária do Mc Donald’s, imóvel e com o olhar perdido, parecia estar na mesma situação do operário do Vinícius quando adquire consciência de sua condição!
Em meio do barulho, da movimentação constante das pessoas, entre mil pedidos à atender... ela parou! Talvez estivesse percebendo, só agora, a enorme engrenagem de transformar seres humanos em máquinas, na qual ela estava inserida. Mas, momentos de consciência não são permitidos e, por isso, ela foi retirada de sua imersão interior e trazida de volta à realidade pelo colega que estava ao lado, pedindo pra ela buscar o pedido nº 189. Ela continuou trabalhando com um sorriso no rosto! È, por que lá o sorriso também é vendido... e comprado!
Mas, entre sorrisos comprados e vendidos, recebo um de graça! Uma linda criança sem rosto pintado, ainda no carrinho de bebê, ao passar em frente minha mesa, me sorri, gratuitamente! Fico encantada, pois sorriso dado de graça é mais bonito. Chego a pensar que ela sabia o que meus pensamentos pensavam e por isso, sorriu!
Como moro ao lado, venho sempre aqui, mas hoje o shopping está diferente, é a “moda no corredor”, isso mesmo! Hoje as lojas saíram de seu recôndito sagrado e ostensivo e foi para o corredor, nele hoje podemos ver, além de pessoas, também roupas, sapatos, jóias, perfumes e... vazio! Confesso que senti certa alegria ao me deparar com isso, talvez seja um sinal de que as pessoas não estão mais tão fáceis de serem compradas como essas mercadorias! Ou quem sabe não! Só estão intensificando seu poder sobre elas, mas prefiro acreditar na primeira impressão. É mais agradável, embora possa não corresponder à realidade.
De repente, uma criança carente... não sei bem de que?, se aproxima de mim e me pede dinheiro para ajuda-la na “passagem”, senti vontade de conversar com ele, saber para onde o levaria essa “passagem”, por onde iria “passar” e por onde já “passou”? Por onde gostaria realmente de “passar”?, mas a mãe o aguardava, impaciente! Então retirei da bolsa um real e dei à ele desejando que ele não passasse somente por onde o dinheiro leva, mas sim pelos caminhos que os sonhos guardam! Assim que pegou o dinheiro, seguiu seu curto caminho até à mesa ao lado!
O shopping está ficando cheio e me sinto na obrigação de liberar essa mesa para que outros se sentem e sintam e quem sabe também escrevam o que seus olhos viram e seu coração sentiu, como eu fiz. Ou que se sentem para comer seus hambúrgueres com batata frita e coca-cola temperados com a desilusão daquela jovem!
Os pais seguram seus filhos pela blusa, alguns ainda pegam na mão, para que eles não fujam, como os bichinhos que estão estampados em suas “caras pintadas”. E assim vão passando este domingo... “felizes”!
Do lugar onde me encontrava, ou me perdia, não sei! Tomando meu ovomaltine, vejo uma cena que chamou minha atenção. Uma jovem funcionária do Mc Donald’s, imóvel e com o olhar perdido, parecia estar na mesma situação do operário do Vinícius quando adquire consciência de sua condição!
Em meio do barulho, da movimentação constante das pessoas, entre mil pedidos à atender... ela parou! Talvez estivesse percebendo, só agora, a enorme engrenagem de transformar seres humanos em máquinas, na qual ela estava inserida. Mas, momentos de consciência não são permitidos e, por isso, ela foi retirada de sua imersão interior e trazida de volta à realidade pelo colega que estava ao lado, pedindo pra ela buscar o pedido nº 189. Ela continuou trabalhando com um sorriso no rosto! È, por que lá o sorriso também é vendido... e comprado!
Mas, entre sorrisos comprados e vendidos, recebo um de graça! Uma linda criança sem rosto pintado, ainda no carrinho de bebê, ao passar em frente minha mesa, me sorri, gratuitamente! Fico encantada, pois sorriso dado de graça é mais bonito. Chego a pensar que ela sabia o que meus pensamentos pensavam e por isso, sorriu!
Como moro ao lado, venho sempre aqui, mas hoje o shopping está diferente, é a “moda no corredor”, isso mesmo! Hoje as lojas saíram de seu recôndito sagrado e ostensivo e foi para o corredor, nele hoje podemos ver, além de pessoas, também roupas, sapatos, jóias, perfumes e... vazio! Confesso que senti certa alegria ao me deparar com isso, talvez seja um sinal de que as pessoas não estão mais tão fáceis de serem compradas como essas mercadorias! Ou quem sabe não! Só estão intensificando seu poder sobre elas, mas prefiro acreditar na primeira impressão. É mais agradável, embora possa não corresponder à realidade.
De repente, uma criança carente... não sei bem de que?, se aproxima de mim e me pede dinheiro para ajuda-la na “passagem”, senti vontade de conversar com ele, saber para onde o levaria essa “passagem”, por onde iria “passar” e por onde já “passou”? Por onde gostaria realmente de “passar”?, mas a mãe o aguardava, impaciente! Então retirei da bolsa um real e dei à ele desejando que ele não passasse somente por onde o dinheiro leva, mas sim pelos caminhos que os sonhos guardam! Assim que pegou o dinheiro, seguiu seu curto caminho até à mesa ao lado!
O shopping está ficando cheio e me sinto na obrigação de liberar essa mesa para que outros se sentem e sintam e quem sabe também escrevam o que seus olhos viram e seu coração sentiu, como eu fiz. Ou que se sentem para comer seus hambúrgueres com batata frita e coca-cola temperados com a desilusão daquela jovem!