Tenho medo de ti e deste amor...



Tenho medo de ti e deste amor
Que à noite se transforma em verso e rima.
E o medo de te amar, meu triste amor,
Afasta o que aos meus olhos aproxima.

Conheço as conveniências da retina.
Muita coisa aprendi dos seus afetos:
Melhor colher os frutos na vindima
Que buscá-los em vão pelos desertos.

Melhor a solidão. Melhor ainda
Enlouquecendo os meus olhos, o escuro,
Que o súbito clarão de aurora vinda

Silenciosa dos vãos de um alto muro.
Melhor é não te ver. Antes ainda
Esquecer de que existe amor tão puro.


Sonetos que não são IV - Hilda Hilst - Roteiro do Silêncio

Fico assim sem você...

Avião sem asa, fogueira sem brasa
Sou eu assim sem você
Futebol sem bola,
Piu-Piu sem Frajola
Sou eu assim sem você

Por que é que tem que ser assim
Se o meu desejo não tem fim
Eu te quero a todo instante
Nem mil alto-falantes
vão poder falar por mim

Amor sem beijinho
Buchecha sem Claudinho
Sou eu assim sem você
Circo sem palhaço,
Namoro sem abraço
Sou eu assim sem você

Tô louco pra te ver chegar
Tô louco pra te ter nas mãos
Deitar no teu abraço
Retomar o pedaço
Que falta no meu coração

Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas
Pra poder te ver
Mas o relógio tá de mal comigo

Por quê? Por quê?

Neném sem chupeta
Romeu sem Julieta
Sou eu assim sem você
Carro sem estrada
Queijo sem goiabada
Sou eu assim sem você

Por que é que tem que ser assim
Se o meu desejo não tem fim
Eu te quero a todo instante
Nem mil alto-falantes
vão poder falar por mim

Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver
Mas o relógio tá de mal comigo

Por quê?

(Fico assim sem você - {Abdullah / Cacá Moraes} - Adriana Calcanhoto - Partimpim)

Já adorava essa música...hoje... se tornou muito especial pra mim!!!

Ah! Esse amor...

Ah! Esse amor... que me consome, que me entusiasma, que me entristece, que me alegra, que me tira de órbita e me atira em seus braços... Que me coloca em sonhos, que me leva em pensamentos à você, que me faz sentir em seus braços acolhedores, que me faz desejada e amada, que me perfuma a vida, que me faz passageira de seu coração! Ah! Esse amor!...

O sol pulou minha janela...

O sol pulou minha janela pra me dar um abraço de despedida, vai descansar! Acaricia minha face, meu corpo e suavemente vai se soltando de mim, começa a deitar-se no horizonte... colore o céu num último gesto, como quem deixa um presente antes de partir! Ah! Como é bom poder ver tudo isso! Como é bom sentir! Queria que todos olhassem o céu agora e vissem esse espetáculo! Como se sentiriam melhor se deixassem um pouco suas preocupações, ambições, anseios, angustias de lado e simplesmente contemplassem! Mas o sol não pode esperar, ele já está se cobrindo com o manto leve da noite, está com muito sono, precisa dormir e sonhar!

aos (im)possíveis leitores

"Quem és tu que me lês? És o meu segredo ou sou eu o teu?"
Clarice Lispector

sobre mim...

“Sempre tive a sensação de mal-estar no mundo, uma sensação de não caber no meu espaço, um desconforto diante de meus pares – eu me pergunto: tenho pares? Eu sabia que em mim há uma mulher que tento esconder ferozmente. Tenho medo que as pessoas identifiquem meus excessos, essa quantidade absurda de pernas e braços que camuflo sob a roupa que visto. O que diriam se soubessem das muitas que vivem em mim e tentam bravamente, numa luta corporal, projetar-se do meu corpo? Tomar-me-iam por uma aberração?”

Clarice Lispector